domingo, 23 de janeiro de 2011

Um e três : Trindade




Isaías 44:6: “Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus”.


O Antigo Testamento insiste constantemente na afirmação de que há somente um Deus, o Criador que se revela a si mesmo, que deve ser cultuado e louvado com exclusividade (Dt 6.4-5; Is 44.6–45.25). O Novo Testamento concorda (Mc 12.29-30; 1Co 8.4; Ef 4.6; 1Tm 2.5), mas fala de três agentes pessoais, Pai, Filho e Espírito Santo, que operam juntos para realizar a salvação (Rm 8; Ef 1.3-14; 2Ts 2.13-14; 1Pe 1.2). A formulação histórica da Trindade (do latim trinitas , que significa “estado de ser três”) não é uma tentativa de explicá-la, propósito que estaria além da nossa capacidade. Apenas oferece limite e salvaguarda aos nossos pensamentos a respeito desse mistério, que nos confronta, talvez, com o mais difícil pensamento que a mente humana pode elaborar. Não é fácil de entender, mas é verdadeiro.

A doutrina surge dos fatos históricos da redenção registrados e explicados no Novo Testamento, Jesus orou a seu Pai e ensinou a seus discípulos a fazerem o mesmo. Contudo, Jesus os convenceu de que era pessoalmente divino. Crer na sua divindade e no seu direito de receber culto e orações é básico para a fé no Novo Testamento (Jo 20.28-31; conforme 1.1-18; At 7.59; Rm 9.5; 10.9-13; 2Co 12.7-9; Fp 2.5-6; Cl 1.15-17; 2.9; Hb 1.1-12; 1Pe 3.15). Jesus prometeu enviar outro “Consolador” ou “Parácleto” (do grego; ver nota no texto de Jo 14.16, [abaixo]), para continuar sua obra como primeiro Ajudador (Jo 14.16-17). Um “Parácleto” é um advogado, ajudador, aliado e sustentador (Jo 14.26; 15.26-27; 16.7-15). O Ajudador prometido é o Espírito Santo, que desceu no pentecostes para cumprir o seu Ministério. Desde o início, ele foi reconhecido como a terceira Pessoa divina; mentir a ele – disse Pedro não muito depois do Pentecoste – é mentir a Deus (At 5.3-4).

Cristo prescreveu o batismo “em nome (singular: um Deus, um nome) do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” – três Pessoas que são um único Deus a quem os cristãos se dedicam (Mt 28.19). Do mesmo modo, encontramos as três Pessoas no relato do próprio batismo de Jesus; o Pai reconheceu o Filho, e o Espírito mostrou sua presença na vida e ministério do Filho (Mc 1.9-11). A bênção de 2Co 13.14 é trinitariana, como o é a oração por graça e paz do Pai, do Espírito, e de Jesus Cristo, em Ap 1.4-5. João inclui o Espírito entre o Pai e o Filho só porque ele ensina que o Espírito é divino no mesmo sentido em que o Pai e o Filho o são. Estes são alguns dos mais notáveis exemplos do ensino trinitariano no Novo Testamento. Embora a linguagem técnica da teologia posterior não se encontre no Novo Testamento, a fé e o pensamento trinitarianos estão presentes em todas as suas páginas. Nesse sentido, a Trindade, é uma doutrina bíblica.

Basicamente, a doutrina é que a unidade do Deus único é complexa. As três “substâncias” pessoais, como são chamadas, são centros coiguais e coeternos de autoconsciência, sendo cada um um “Eu” em relação aos outros dois, que são “Vós”, cada um possuindo a plena essência divina de Deus, a existência específica que pertence só a Deus. Deus não é uma só pessoa que desempenha três papéis separados; este é o erro denominado “modalismo”; nem são três deuses que apenas parecem ser um por atuarem sempre juntos. Isso é “triteísmo”. O teólogo B. B. Warfield coloca o problema de modo simples: “Quando dizemos estas três coisas – que não há senão um só Deus que o Pai, o Filho e o Espírito, cada um é Deus; que o Pai, o Filho e o Espírito, cada um é uma pessoa distinta – então enunciamos a doutrina da Trindade em sua inteireza”. Isso sumariza o que foi revelado através das palavras e obras de Jesus e é a realidade que subjaz à salvação do Novo Testamento.

Praticamente falando, a doutrina da Trindade exige que demos honra ao igual a cada uma das três Pessoas na unidade do Deus único. Além do mais, conhecer essa doutrina estabelece fé pessoal e enriquece não menos o forte senso de unidade com outros cristãos.


Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, Nota Teológica, página 837.

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